Viver a Figueira 12 meses por ano

Um Passeio pelo Baixo Mondego com as Jornadas do Património

Montes de Santa Olaia e Ferrestelo Visita Comentada ao Baixo Mondego Jornadas Europeias do Património 2024 Figueira da Foz

O MeetFigueira, cuja grande causa é a Figueira da Foz das 14 freguesias, andou este fim de semana mais uma vez pelo interior do concelho, a explorar o Baixo Mondego. Desta feita a pretexto das Jornadas Europeias do Património, aceitámos o repto do Município à população e fomos mais uma vez à descoberta de uma Figueira diferente, uma que aos poucos começa a ser valorizada e a integrar as ofertas turísticas e culturais do concelho. Isto é, já começa a haver mais vida para além das praias.

Falamos de grandes investimentos públicos em peças-chave deste puzzle que é o turismo no concelho, de que são emblemáticos o Mosteiro de Seiça, os palácios de Maiorca ou a nova ponte ciclável Alqueidão-Vila Verde, mas falamos sobretudo de paisagens e de patrimónios, ancestralidades materiais e imateriais, gastronomias e tradições que se vão revelando em iniciativas de descoberta do território, em rotas, sítios e produtos revalorizados, como aconteceu mais uma vez neste excelente passeio comentado pela margem norte do Baixo-Mondego, a convite do Departamento de Cultura e Turismo do Município.

O arroz carolino, o rio, os montes de Santa Olaia e Ferrestelo e o centro histórico da bela vila de Maiorca, foram os pontos focais desta visita, que ofereceu uma nova panorâmica do Baixo Mondego aos mais de vinte corajosos, quase todos figueirenses, que se levantaram cedo a um sábado de manhã para conhecer melhor o seu concelho.

Jornadas Europeias do Património Setembro 2024 Figueira da Foz Visita Comentada ao Baixo Mondego ponte

A nossa visita começou em caminhos rurais, entre os vastos arrozais da Quinta de Foja, uma das maiores e mais antigas propriedades rurais do país (ao fundo ponte sobre a EN 111), ainda na freguesia de Ferreira-a-Nova: uma paisagem deslubrante sobretudo nesta altura em que os campos abundantes estão prontos para a ceifa do famoso arroz carolino, que aqui domina o panorama e a economia.

Na ótica de quem cá vive e trabalha, a Figueira da Foz tem muitos tons, alguns até algo cinzentos. Mas para quem visita e passeia, há basicamente duas cores dominantes: há uma Figueira da Foz azul e há uma Figueira Verde. O azul veste a tal mítica “Rainha das Praias”, é o domínio do banhista e do mareante, onde a vista se lava no oceano; Já o verde cobre uma paisagem, digamos, mais plebeia e rústica, mais discreta, mas igualmente majestosa: a Figueira bucólica das matas e da vasta planície estuarina do Baixo Mondego, epicentro desta iniciativa, de que damos aqui registo sobretudo fotográfico, através da lente sempre inspirada do Pedro Silva.

Jornadas Europeias do Património Setembro 2024 Figueira da Foz Visita Comentada ao Baixo Mondego campos de arroz

Jaqueline Couto, técnica do Município figueirense, fez uma interessante introdução à história universal do arroz, até chegar às magníficas espcificidades da cultura do carolino na nossa região e da sua transição das práticas manuais, que ainda se observam a sul do Mondego, na zona de Alqueidão, para os métodos mecanizados que se praticam na generalidade dos campos e que colocam o arroz do Baixo-Mondego em pratos de todo o mundo. O jovem biólogo Carlos Fonseca, do MAREFOZ, falou sobre a biodiversidade que prolifera nos campos e no estuário, com destaque para a avifauna, sendo esta região um dos spots nacionais de excelência para a observação de aves.

Os panorâmicos Montes de Santa Olaia e Ferrestelo constituiram a segunda etapa desta jornada, desta feita pela mão do arqueólogo Marco Penajoia, que com grande mestria integrou paisagem, história, natureza, geologia e cultura numa verdadeira aula viva sobre estes sítios, onde abundam vestígios marcantes de passados longínquos, pelo menos desde a Idade do Ferro.

Santa Olaia, além da belíssima Capela de Santa Eulália, em processo de reabilitação por parte do Município, apresenta de facto um mosaico de civilizações singular, com fortes presenças fenícia, greco-romana e medieval, que um olho treinado consegue detetar no terreno, onde ainda se vislumbram restos de muralhas (já existiu aqui um castelo nos primórdios da nacionalidade), domicílios, oficinas ou fornos, bem como de um antigo porto marítimo – para conhecer melhor tudo isto, aconselhamos vivamente uma visita complementar ao Museu Municipal Santos Rocha, e em particular a seção dedicada a este imporante sítio arqueológico, cujas primeiras escavações estiveram a cargo do fundador do museu e pioneiro da arqueologia nacional, António dos Santos Rocha.

Não menos impressionantes são os bosques que cobrem estes maciços calcários, sobretudo o denso carvalhal do Ferrestelo, exemplos raros da flora autóctone primitiva e que oferecem um refúgio magnífico para quem esteja de passagem em dias mais quentes (aqui não há eucaliptos ou acácias e sim, tem parque de merendas).

Jornadas Europeias do Património Setembro 2024 Figueira da Foz Visita Comentada ao Baixo Mondego Paço de Maiorca fachada principal

Do património arqueológico e natural passámos para o património monumental do Baixo Mondego e para um dos seus mais belos exemplares, o Paço de Maiorca, palácio do século XVIII em processo de reabilitação e que em breve estará disponível para visitas. Os magníficos painéis de azulejo, os tetos decorados e a grande cozinha octognal cativaram a atenção dos visitantes.

Ainda no centro histórico de Maiorca, visitou-se o atelier da Quadrifólio, empresa de restauro de arte com âmbito nacional e que trocou Lisboa pela bucólica vila da Figueira da Foz. Os sócios Pilar Hespanhol e José Nunes mostraram os cantos à casa e falaram para um público atento sobre o seu minucioso ofício, de dar vida nova a mobiliário e a obras de arte em todo o tipo de materiais.

A bela Igreja Matriz de Maiorca, que remonta ao século XVII, também mereceu paragem demorada, sobretudo em torno da sua magnífica arte sacra e, em particular, de uma pintura do século XVIII recentemente restaurada pela Quadrifólio.

A Confraria do Arroz Doce de Maiorca, proporcionou o ponto alto do passeio, fechando a jornada com a oferta de uma deliciosa tigela da iguaria típica, repondo as calorias e promovendo o arroz carolino local.

Nota mais para os técnicos da Câmara Municipal da Figueira da Foz pela primorosa organização, mas também a todos os parceiros locais que enriqueceram a visita e tão bem receberam o grupo: as Juntas de Freguesia de Ferreira-a-Nova e Maiorca, representadas pelos seus presidentes que fizeram questão de vir dar as boas-vindas aos visitantes, o laboratório MAREFOZ, a Confraria do Arroz Doce de Maiorca, a Paróquia de Maiorca e a Quadrifólio, que proporcionaram uma experiência enriquecedora a merecer repetição.