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História e estórias do Mercado Municipal da Figueira da Foz…

Mercado Municipal da Figueira da Foz ou Mercado Engenheiro Silva, secção de peixe

O Mercado Municipal da Figueira da Foz foi inaugurado há 131 anos, no dia 24 de junho de 1892, dia de S. João, por volta das sete horas da manhã.

No final do século XIX a Figueira assistiu a um forte desenvolvimento, com fortes reflexos urbanísticos, realçando-se a construção do Bairro Novo de Santa Catarina, da iniciativa da Companhia Edificadora Figueirense, fundada em 1861 por Francisco Maria Pereira da Silva que chegou à Figueira da Foz com o objetivo de desenhar a carta hidrográfica do porto a fim de se proceder ao desassoreamento da barra.

Com as areias provenientes do desassoreamento da barra, efetuou-se o aterro da Praia da Fonte, uma enseada do rio que então existia no local dos atuais Mercado e Jardim municipais.

A Praia da Fonte servia de estaleiro para reparação dos barcos. Em frente havia uma doca para fundeadouro e descarga e, daqui até ao Forte de Santa Catarina, existiam armazéns, oficinas, forjas, serralharias, casas de arreios, carpintarias e cantarias, um verdadeiro parque industrial.

Foi exatamente no aterro criado pelo desassoreamento da barra que se ergueu o novo Mercado Engenheiro Silva, cuja designação é uma homenagem da cidade ao Eng.º Francisco Maria Pereira da Silva, responsável por tão importantes obras e um dos grandes impulsionadores do desenvolvimento da Figueira da Foz no final do século XIX.

Em 1861, iniciou-se a construção do Bairro Novo (de Santa Catarina).

Em 1890, com o desaterro do terreno hoje ocupado pelo Mercado e algumas casas da rua Cândido dos Reis é aterrada a doca da Praia da Fonte, que se transforma no jardim municipal atual.

Em 1891 foi inaugurado o Jardim Municipal, com projeto da Companhia Progresso Figueirense, pertencente ao empresário Guilherme Mesquita.

Em 1890 a Câmara Municipal presidida por Francisco Lopes Guimarães deliberou construir o Mercado Engenheiro Silva, tendo escolhido uma proposta da Companhia Progresso Figueirense, de Guilherme Mesquita.

Dois anos depois, no dia 24 de junho de 1892, dia de S. João, por volta das sete horas da manhã, há 131 anos, foi inaugurado o atual Mercado Municipal da Figueira da Foz.

A inauguração do Mercado foi uma grande festa. Estava decorado com bandeiras coloridas, fazendo um maravilhoso contraste com o “rosa-velho” das paredes. Ouviam-se os foguetes e a bela música da banda filarmónica “Figueirense”.

Mercado Municipal da Figueira da Foz, ou Mercado Engenheiro Silva, foto antiga

Os figueirenses, orgulhosos, festejavam o seu novo Mercado que, finalmente, substituía o velho mercado ao ar livre da Praça Velha que funcionou durante 122 anos, de 1770 a 1892.

Tornou-se ilegal a venda fora do Mercado Engenheiro Silva e, se tal acontecesse, os infratores teriam de pagar uma multa de 1000 réis, um montante bastante elevado para a época.

Os vendedores oriundos dos arredores da cidade, como Tavarede, Brenha e Buarcos, estavam descontentes com as novas condições de venda, e o jornal “Correspondência da Figueira” defendia ser “injusto terminar com o mercado livre dos comerciantes ambulantes” da Praça Velha.

A concessão do Mercado Engenheiro Silva foi cedida primeiro a Guilherme Mesquita e, logo depois, à Companhia Progresso Figueirense, que a conservou durante 85 anos.

Em 1977 a exploração do Mercado passou para a competência da Câmara Municipal que procedeu a obras de remodelação nos anos de 1999, 2002 e 2012/2013, estando hoje muito atual e com boas condições de funcionamento, sobretudo devido às obras executadas em 2012/2013.

Para a época foi um grande Mercado, com 4.800 m² de área coberta, com um grande pátio central, coberto por uma estrutura metálica, integrando-se na corrente da “arquitetura do ferro”, em moda durante a 2ª metade do séc. XIX e inícios do séc. XX, classificado como Imóvel de Interesse Municipal desde 2004.

O novo Mercado tornou-se um ponto de encontro de todos os figueirenses, um verdadeiro shopping dos nossos dias, possuindo mesmo um café que, segundo o jornal “O Figueirense”, competia com os cafés chiques de Lisboa e Porto.

Mercado Municipal da Figueira da Foz, ou Mercado Engenheiro Silva, imagem antiga do exterior

De 1940 a 1960 os bailes de S. João atingiram grande popularidade, tendo sido frequentados por imensas pessoas, algumas vindas em excursões de vários pontos de Portugal, e mesmo de Espanha, como bem nos recordou António Flórido numa das suas radiosas crónicas (link).

Em 1929, ano em que foi instituído o feriado municipal a 24 de junho, começaram a efetuar-se os bailes de S. João dentro do Mercado Municipal da Figueira da Foz.

“Ao início da noite o polícia Baptista regulava o trânsito, o Jáime vendia “O Século” e o “Taxeira”, o “Palhinhas”. No jardim, a Sofia fazia as pipocas e muitos saboreavam um gelado do Chico! O Baile de S. João foi tendo diversas alcunhas, tais como o “baile das cebolas”, o “baile das couves’” e o “baile dos magalas”. E o mercado, nessa noite de 23 para 24 de junho, era apelidado de “cabaret da couve”. E devido à razoável afluência de militares (a Figueira da Foz tinha na altura dois grandes quartéis, o CICA 2 e o RAP 3) que nas noites de S. João conseguiam autorização para uma ‘noite alargada’, o mercado ficava repleto de soldados. Ora como a lei militar obrigava os militares a andar sempre fardados, daí nasceu o apelido de ‘baile dos magalas’.

E os magalas iam à procura das ‘sopeiras’ e também à espreita das criadas espanholas que vinham muito aos bailes, sempre bem arranjadas com os seus característicos aventais.

Em alguns anos chegaram a realizar-se três bailes seguidos nos dias 22, 23 (véspera de S. João) e 24 de junho (dia de S. João). Claro que a noite/madrugada da véspera era a principal, pois o mercado não fechava portas! A entrada fazia-se só pelo portão do lado do rio e tinha um preço quase simbólico que servia para pagar a orquestra, que quase sempre era a do “Quiaios Clube” com o vocalista Victor Melúrias.

Já de madrugada, lá os soldaditos se aninhavam debaixo das bancas a dormitar e, como a fome apertava, iam estendendo uma mão marota por debaixo das tendas que cobriam as bancas e lá vinha uma maçã, pera, banana ou outra fruta qualquer para mitigar a ‘fomeca’ que começa a ‘apertar’! E os donos das bancas sabiam que isso ia acontecer mas não se importavam, ainda que alguns também dormissem no mercado para evitar abusos de maior!

E dessas noites, por um lado cálidas e por outro animadas, vários namoricos surgiram e muitos casamentos se efetuaram.

Após o 25 de Abril de 1974 fecharam os dois quartéis na Figueira da Foz e assim acabaram os soldados e a designação de ‘o baile dos magalas’. Os próprios bailes de S. João no Mercado Engenheiro Silva também nunca mais se realizaram”.