Paião, “capital” de uma das mais belas freguesias da Figueira da Foz, assinala hoje, 30 de junho, o 35º aniversário da sua elevação a vila. Uma freguesia essencialmente rural e habitacional, sem praia, mas com muita natureza, muita história e muito património. Inspire-se na efeméride e acompanhe-nos num pequeno passeio pela história e pelos encantos desta terra com uma identidade muito própria, prosseguindo o trabalho que aqui no MeetFigueira temos feito de divulgação das 14 freguesias do concelho.
Situada no extremo sul do concelho da Figueira da Foz, Paião combina uma excelente qualidade de vida habitacional com uma rica herança histórica e um cenário natural arrebatador. Se não acredita, visite a renovada Fonte de São João, um grande investimento local que reabilitou aquele espaço de lazer e de memória, hoje (re)inaugurado, criando um dos melhores miradouros sobre os campos de arroz e o estuário do Mondego. Também esta fonte tem uma lenda curiosa, à atenção de todos os apaixonados: em tempos ancestrais acreditava-se que os casais que bebessem água daquela fonte na noite de São João, de 23 para 24 de junho, teriam amor eterno e uma relação duradoura. Não garantimos tal milagre, mas já visitámos e asseguramos que é um local bastante romântico e ideal para juras de amor.
Conhecida como a “Terra dos Alfaiates”, Paião foi outrora um centro próspero para a alfaiataria, atividade que marcou profundamente a identidade local até o final do século XX, altura em que o “pronto a vestir” começou a conquistar o mundo, embora ainda existam alguns alfaiates e costureiras que mantêm viva a chama desta arte, imortalizada na vila com um Monumento ao Alfaiate, da autoria do escultor Mário Nunes.
Historicamente, o Paião, que existe como freguesia independente de Lavos desde 1900, está intimamente ligado ao Mosteiro de Santa Maria de Seiça, monumento nacional reabilitado e inaugurado este ano pelo Município, cuja fundação remonta ao século XII, ou seja, à fundação da nacionalidade, iniciando-se aí o povoamento e desbravamento destas terras.
Este mosteiro foi, durante séculos, um importante pólo centro religioso e agrícola na região, pertencendo à influente Ordem de Cister, com sede em Alcobaça e extinta nas Revoluções Liberais, no início do século XIX. Após a extinção da congregação, o mosteiro ficou ao abandono, foi delapidado (as pedras do adro da Igreja Matriz de Paião, por exemplo, foram retiradas do mosteiro) e teve até funções agrícolas, como unidade de descasque de arroz. A lenda da origem do mosteiro, fique a saber, está associada a um milagre atribuído a Nossa Senhora de Seiça, aquando de uma batalha contra os mouros na Reconquista, narrado numa placa na magnífica Capela de Seiça, a cerca de 200 metros do mosteiro, o que acrescenta um toque místico à longa história do monumento e desta freguesia.
CONHEÇA MELHOR A HISTÓRIA DO MOSTEIRO DE SEIÇA
Tal como na Idade Média, a agricultura continua a ser uma atividade central no Paião, especialmente na área de Borda do Campo, onde o cultivo do arroz domina a paisagem, marcada pelo vale do Rio Pranto, último afluente do Mondego. Introduzido no reinado de D. Dinis, o arroz transformou a paisagem do Baixo Mondego, criando um cenário que é um verdadeiro espetáculo visual, onde uma abundante biodiversidade (especialmente aves) convive mais ou menos harmoniosamente com o labor humano.
Gastronomia, Natureza e Cultura
Além de algumas bolsas de indústria, o comércio e os serviços desempenham um papel crucial na economia local. O que também não é novo por estas bandas: A feira mensal dos 19 na vila e a histórica Feira de Ano de Seiça, realizada há mais de 500 anos junto ao mosteiro a 15 de agosto, são eventos que atraem visitantes de toda a região, ativando a economia e fortalecendo a comunidade. E a presença de estabelecimentos de qualidade, como o restaurante O Peleiro, reconhecido como um dos melhores do concelho e um dos melhores do país na sua especialidade (a soberba e robusta Sopa da Pedra), destaca por outro lado a excelência da gastronomia local e a hospitalidade dos paionenses.
Sem oferta balnear e com características essencialmente residenciais e (ainda) pouco explorada turisticamente, além da vitalidade da sua vida associativa e cultural, com destaque para a música e para a etnografia, a paisagem rural e florestal do Paião, a natureza, continuam sem dúvida a ser o seu grande atrativo. A freguesia oferece vistas panorâmicas sobre os campos do Mondego e da Figueira da Foz, proporcionando um ambiente tranquilo e pitoresco, pontuado por moinhos, fontes e lavadouros, aldeias e lugares como Borda do Campo, Bizorreiro, Vales, Seiça, Porto Godinho ou Sobral, cada uma com a sua própria história, tradições e charme único.
O turismo tem vindo, no entanto, a ganhar uma importância crescente. A EuroVelo 1, uma das principais rotas ciclísticas europeias atravessa a freguesia e tem cada vez mais utilização, a proximidade das Termas do Bicanho (já no concelho de Soure), o grande investimento na reabilitação do imponente Mosteiro de Seiça ou a implementação de roteiros turísticos como a Rota de Seiça – percurso circular de 13 quilómetros pela freguesia a não perder – oferecem ao visitante a oportunidade de explorar a riqueza histórica e natural do Paião, tornando-o um destino cada vez mais popular para ecoturismo e para o turismo cultural.
E quando falamos de cultura, não falamos apenas de monumentos. De facto, tendo como base uma sociedade civil ativa e empenhada em coletividades como a respeitável Sociedade Filarmónica Paionense ou o Rancho Etnográfico de Borda do Campo (infantil e adulto), Paião é uma freguesia vibrante em termos de espetáculos, festas e romarias, multiplicando-se todo o ano eventos e festividades que celebram a cultura local e as tradições.
As Festas em honra da padroeira Nossa Senhora do Ó, a 8 de dezembro, e a Festa de Nossa Senhora de Ceiça, a 15 de agosto, são momentos altos do calendário festivo, atraindo visitantes de toda a região. A Festa de São João, de 23 para 24 de junho, enche as ruas de alegria e cor. As Chouriçadas nas capelas do Porto Godinho e de Calvino são celebrações gastronómicas imperdíveis. Outros eventos, como o Festival do Arroz de Carneiro em Porto Godinho em outubro, as Corridas de Barcas no Rio Pranto, o Festival de Folclore da Borda do Campo, e as diversas festas em honra de santos padroeiros, refletem o espírito comunitário e a riqueza cultural da freguesia.
A qualidade de vida no Paião é reforçada por infraestruturas desportivas modernas, como o grande Pavilhão Multidesportivo e a Piscina Municipal, inaugurada em 2001, que oferece uma variedade de atividades desportivas para todas as idades, promovendo a saúde e o bem-estar da população.
Património Religioso
O Mosteiro e a Capela de Seiça são sem dúvida os monumentos mais conhecidos, mas a freguesia de Paião é rica em património religioso, com um conjunto assinalável de igrejas e capelas que refletem a fé, a história e a cultura da comunidade local. Estes edifícios são não só locais de culto, mas também marcos históricos e arquitetónicos que embelezam a paisagem e guardam histórias de gerações.
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Ó, ou Igreja Matriz do Paião, é o principal templo religioso da freguesia no ativo. Inaugurada em 1905, esta igreja é um exemplo notável de arquitetura neoclássica, com a sua fachada imponente e interior decorado com detalhes artísticos encantadores. A igreja foi construída para substituir um antigo templo que já não conseguia atender às necessidades da crescente população da freguesia, contendo ainda duas imagens, de S. João Baptista e a de S. António, datadas do século XVII. Hoje, continua a ser um centro vital de atividades religiosas e comunitárias, acolhendo missas, casamentos e outras celebrações importantes, desde logo as festas da Padroeira, a 8 de dezembro.
Espalhadas por toda a freguesia, encontram-se várias capelas, pequenos mas expressivos testemunhos de devoção e história local. A Capela do Porto Godinho é uma das mais conhecidas, celebrando festas como as Chouriçadas, onde a comunidade se reúne para degustar especialidades locais e celebrar a tradição. Esta capela é um exemplo típico dos pequenos templos rurais, com uma arquitetura simples mas carregada de simbolismo.
A Capela de Calvino é outro local de grande importância, conhecida também pelas suas Chouriçadas e pelas festas em honra de Nossa Senhora do Rosário, na primeira semana de agosto. No Porto Godinho, além da capela mencionada, destaca-se a Capela de Nossa Senhora da Graça, onde se realizam festas em honra da padroeira, em julho, que atraem visitantes e devotos. Já a Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, situada no Serrião Alto e Torneira, dedicada à proteção dos viajantes e marinheiros, recebe grandes celebrações na primeira semana de setembro.