No Dia Internacional da Diversidade Biológica, celebrado a 22 de Maio, o MeetFigueira convida a refletir sobre a riqueza natural que nos rodeia e como esta pode ser valorizada, não apenas pela sua importância intrínseca, mas também pelo potencial que representa para o turismo de natureza e para a economia local. A Figueira da Foz das 14 freguesias, com o seu diversificado mosaico de ecossistemas, oferece um panorama único e de inestimável valor natural na região, com alguns sítios de alto valor biológico.
O concelho é “abençoado” com uma localização geográfica privilegiada, onde o rio Mondego se encontra com o Oceano Atlântico e a planura gandaresa se funde com o maciço calcário da Boa Viagem, criando um ambiente propício à existência de uma vasta gama de habitats. Das dunas costeiras às grandes extensões de pinhal com estatuto em grande medida de Mata Nacional, passando pelos estuários, zonas húmidas e férteis planícies agrícolas, cada um destes ecossistemas alberga uma enorme diversidade de flora e de fauna.
A promoção do turismo de natureza, em aliança com práticas sustentáveis, por outro lado, não só contribui para a conservação dos ecossistemas, mas também para o desenvolvimento económico e social do concelho. Cabe-nos assim a todos, cidadãos e entidades públicas, proteger este legado natural e explorar o seu potencial de forma responsável e consciente.
Turismo de Natureza: Um Potencial a Explorar
A diversidade biológica da Figueira da Foz, de facto, não é apenas um tesouro natural a ser preservado, mas também um recurso valioso para o desenvolvimento do turismo de natureza. Este tipo de turismo, que privilegia atividades ao ar livre em harmonia com o meio ambiente, tem o potencial de se tornar uma importante alavanca para a economia local, diversificando a oferta oferecendo uma alternativa saudável ao balnear e promovendo a sustentabilidade e a consciencialização ambiental.
Os passeios pedestres ou em duas rodas (sem motor, de preferência) são uma excelente forma de explorar a biodiversidade da região. Trilhos como a Rota dos Arrozais de Maiorca, a Rota de Seiça que atravessa zonas de floresta ou os arrozais do rio Pranto, a Rota das Salinas, as lagoas de Quiaios e Bom-Sucesso, a Mata de Foja e os pinhais litorais, ou os muitos percursos que serpenteiam pela Serra da Boa Viagem, oferecem ao visitante a oportunidade de mergulhar na natureza, observando de perto as diversas espécies que habitam estes ecossistemas. Aconselhamos, sobretudo se vier em grupo ou com a família, a recorrer a guias conhecedores do território, como os nossos amigos da Time Off Figueira da Foz, que enriquecem a experiência, proporcionando informação mais detalhada sobre a biodiversidade local.
Neste capítulo do usufruto turístico da natureza, a observação de aves é outra atividade em crescente popularidade, sobretudo nas zonas húmidas e em particular no estuário do Mondego e nas áreas circundantes, tal como recentemente destacámos aqui no Meet.
Natureza em “bruto” na Figueira da Foz: Alguns Spots de Excelência
Sendo, então, o Dia da Diversidade Biológica e como somos amantes de efemérides e de natureza aqui no Meet, assinalamos a data com uma short-list de sítios do concelho onde a natureza ainda se pode apreciar em estado selvagem ou, pelo menos, espontânea.
Não são todos os sítios, o concelho tem mais por onde explorar, como acima já referimos, mas são uma boa amostra do melhor ou mais curioso em termos de biodiversidade na Figueira da Foz (excluindo parques e jardins). Por isso, instale a aplicação de reconhecimento de espécies, desempoeire o guia ornitológico, prepare a máquina ou os binóculos e parta à descoberta:
Dunas de Quiaios
As dunas de Quiaios, e a contígua Mata Nacional das Dunas de Quiaios, são um exemplo paradigmático da biodiversidade costeira selvagem. Este sistema dunar pertence ao sítio Rede Natura das Dunas de Gândara, Mira e Gafanhas, está em constante mudança devido à ação dos ventos e das marés e é o lar de várias espécies vegetais endémicas e de aves migratórias que utilizam este habitat como local de repouso e nidificação.
Plantas como a Ammophila arenaria e a Armeria maritima são apenas algumas das espécies adaptadas às duras condições ambientais, desempenhando um papel crucial na fixação das dunas. Grande parte desta paisagem está em estado selvagem e não se deve perturbar, mas existem alguns trilhos, a praia e pode sempre percorrer o passadiço que atravessa, por cima das dunas, toda a extensão da Praia de Quiaios até à Murtinheira.
Serra da Boa Viagem
Outro destino natural obrigatório na Figueira da Foz é a Serra da Boa Viagem, uma grande área florestal que oferece um refúgio para inúmeras espécies de fauna e flora. Aqui, podemos encontrar sobretudo o pinheiro-bravo, mas também sobreiros e carvalhos ou núcleos de imponentes eucaliptos, alguns deles centenários, e acácias, bem como uma enorme variedade de fungos, líquenes e musgos. Recorde-se que toda esta mata, sobretudo o perimetro do Parque Florestal com cerca de 400 hectares, está em área protegida e é fruto de um grande programa de florestação iniciado em 1913 – que incluia a plantação massiva de pinheiros, mas também de eucalipto e acácia, espécies tidas normalmente como invasoras mas que aqui já fazem parte da paisagem há mais de um século.
A biodiversidade animal é igualmente rica, com a presença de mamíferos como a raposa (Vulpes vulpes) e o javali (Sus scrofa), bem como várias espécies de aves, répteis, batráquios e insetos, registando-se um crescimento da população de esquilos nos últimos anos, espécie igualmente exótica e invasora, mas que faz as delícias dos visitantes, sobretudo mais novos.
Praias Rochosas
As poças de maré nas praias rochosas do concelho, basicamente as que ficam entre o cabo Mondego e Buarcos, são verdadeiros microcosmos de biodiversidade e por diversas vezes já aqui falámos delas. Estes pequenos corpos de água retidos entre as rochas durante a maré baixa abrigam uma variedade impressionante de vida marinha. Desde anémonas, ouriços-do-mar e estrelas-do-mar até pequenos peixes e crustáceos, as poças de maré são um espetáculo fascinante para os exploradores da natureza, proporcionando uma oportunidade única para observar de perto a interação entre diferentes espécies marinhas.
Estuário do Mondego
O estuário do Mondego é outra das jóias naturais do concelho que não nos cansamos de promover. Esta área é fundamental para a alimentação e reprodução de várias espécies de peixes, aves e mamíferos como as lontras. A observação de aves, de resto, é uma atividade que tem vindo aqui a ganhar particular popularidade, atraindo entusiastas para observar espécies como o flamingo, a garça-real e o colhereiro aves que abundam atraídas por uma grande riqueza em termos de cadeia alimentar.
As águas e margens do estuário fornecem também um habitat essencial para a reprodução e alimentação de peixes migradores como a lampreia-marinha, o sável e a savelha. A flora do estuário também é diversificada, com presença significativa de salgueiros, choupos e caniços, que formam uma vegetação ribeirinha densa, oferecendo abrigo e alimento para inúmeras espécies. Neste contexto, a ilha da Morraceira ou a zona dos Armazéns de Lavos, onde se situa o Núcleo Museológico do Sal (onde encontrará muita informação sobre a biodiversidade desta paisagem semi-domesticada), destacam-se pela sua importância ecológica e por serem um ponto focal para atividades de ecoturismo.
Praias Urbanas e Novos Ecossistemas
E por último uma sugestão “fora da caixa”: uma praia verde. Ou mais um caso de natureza a florescer teimosamente nos sítios mais insólitos. O aumento da extensão de areia nas praias urbanas da Figueira da Foz, graças ao alargamento do molhe norte, tem criado novos e interessantes pequenos ecossistemas e não falamos apenas do famoso Oásis, na Ponte Galante, em redor do qual se desenvolve já um frondoso espaço verde na praia. Embora não colha unaninimidade entre a população local, a vegetação costeira e árvores pioneiras começam a estabelecer-se “à revelia” nalgumas outras zonas mais recuadas das praias entre Buarcos e o molhe norte, criando um manto verde e habitats únicos que suportam uma diversidade crescente de vida silvestre.
Espécies vegetais como o cordeirinho-da-praia (Honckenya peploides) e o cardo-marítimo (Eryngium maritimum) estão a proliferar, entre outros arbustos e árvores, fixando as areias, atraindo insetos polinizadores e uma multiplicidade cada vez maior de aves e outras formas de vida que contribuem para a complexidade e resiliência destes novos ecossistemas e para um futuro, quem sabe, Parque Verde da Praia da Claridade…