Pontos de ordem: A Primavera é para sair de casa e a Figueira da Foz não é só praia e sol. Estabelecido isto, esta é a época ideal para virar costas ao litoral e as atenções para o interior do concelho e para apreciar a Figueira da Foz verde e rural, também plena de encantos.
Começando nos ambientes de transição, como a Ilha da Morraceira, nesta altura também cheia de vida, ou a Rota das Salinas em Lavos e indo até aos campos de arroz de Maiorca ou de Paião. Ou subindo pela margem direita do Mondego até à Praia Fluvial da Ereira, já no concelho vizinho de Montemor-o-Velho. Ou até à pré-história nas Alhadas e aos Fenícios em Ferreira-a-Nova. Propomos, desta feita, acompanhando o sábio ciclo da natureza, o “outdoor”, uma roupa mais leve, um corpo ativo e uma alma rejuvenescida! E abalar à descoberta dos tesouros naturais da Figueira da Foz, que são muitos mais que estes. Mas estes podem ser um bom ponto de partida…
1. Passear nas Abadias
e descobrir os novos Jardins Polinizadores, parcelas de relvado, uma delas mesmo em frente ao CAE, que este ano foram preservadas de cortes e deixada a florescer para alegria de abelhas e borboletas. Estes oásis de biodiversidade no relvado normalmente “aparado” resultam de um projeto do movimento cívico Parque Verde abraçado pelo Município.
Ou ir à descoberta das muitas árvores magníficas que povoam o Parque, descarregar uma aplicação de reconhecimento botânico e tentar identificar amieiros, choupos negros, choupos brancos, tílias, azinheiras, carvalhos roble, feixos, bordos, tipuanas, carvalhos negral e castanheiros, abrigos frondosos de milhares de pequenas aves que oferecem ao público um maravilhoso concerto primaveril.
Ou simplesmente ler, ouvir um podcast ou dormir a sesta à sombra dos acolhedores chorões que crescem à beira da ribeira. E como o calor ainda não aperta, usufrua deste pedaço de natureza no centro da cidade fazendo exercício nos muitos equipamentos de lazer e desporto do Parque das Abadias, que também é pet-friendly.
2. Caminhar, pedalar e piquenicar na Serra da Boa Viagem
Depois da destruição do furacão Leslie, há alguns anos atrás, muito foi feito para limpar e reabilitar esta Mata Nacional, ou melhor, o Parque Florestal da Serra da Boa Viagem, que continua tão frondoso e refrescante como sempre, agora com novos equipamentos de lazer e de merendas.
Na Primavera tudo renasce nesta floresta cruzada por muitos trilhos e belos apontamentos como a Capela de Santo Amaro, a Fonte de Santa Marinha, ou o Miradouro da Bandeira. E com sorte sai-lhe ao caminho um esquilo, animal cuja população tem crescido nesta área e faz as delícias dos mais novos. Também aqui, ouça a música dos pássaros.
3. Fazer a Rota dos Arrozais e das Fontes de Maiorca
Uma das mais belas rotas pedestres do concelho, atravessando o magnífico cenário rural do Baixo Mondego, com destaque para os vastos campos de arroz, que atraem centenas de aves nesta época de preparar os terrenos e de semear.
Além da paisagem natural e rica em biodiversidade, poderá também apreciar a “faina” do arroz em pleno, com grandes bandos de aves atentas ao que sai da terra remexida. Em maio já poderemos ver o arroz a crescer e a planície fica inteiramente verde. Percurso circular (13,4 km), passando por marcos culturais importantes como a Ponte das Cinco Portas ou Monte de Santa Olaia, sítio arqueológico importante com uma bela Capela do século XVIII e uma vista de luxo sobre os campos do Mondego.
Em Maiorca, não poderá perder também a refrescante Rota das Fontes, percurso de 5,5 quilómetros constituído por onze pontos: Fonte das Sete Bicas, Mãe de Água, Nascente da Mãe de Água, Caminho Real, Fonte da Serra de S. Bento, Fonte da Serra de Castros, Fonte do Canudo, Fonte do Casal Benzedor, Cruzeiro de Sanfins, Fonte de Sanfins de Baixo e Fonte de Sanfins e respetivas placas identificativas, executadas por António Varela, artesão local e mentor do projeto da Rota.
4. Fazer a Rota das Salinas
e pasmar com o esplendor das aves do estuário do Mondego: flamingos, borrelhos, garças, patos, andorinhas do mar, pernilongos, corvos marinhos e cegonhas são alguns dos habitantes alados desta maravilha do património natural e cultural da Figueira da Foz, que na Primavera oferecem um espetáculo inigualável. Início e fim deste passeio de baixa dificuldade na Salina do Corredor da Cobra, onde encontramos o excelente Núcleo Museológico do Sal, com todo o contexto histórico e ecológico das ancestrais salinas da Foz do Mondego.
5. Celebrar nas Romarias
A Figueira da Foz tem eventos todos os anos e para todos os gostos. Mas como a Primavera convida à descoberta do concelho, à alegria e à comunhão, não podemos deixar de destacar a enorme variedade de Festas e Romarias nas comunidades mais rurais, celebrações ancestrais de data mais ou menos regular que mostram uma outra Figueira, bem diferente da experiência balnear e turística de massas.
Desafiamos o leitor, assim, a ir às freguesias e a conhecer também as tradições festivas que se multiplicam pelas muitas localidades ainda com forte dedicação à genuinidade etnográfica e gastronómica. Celebrações como as Festas em Honra de Santo António, em principio de Junho, em Carritos ou as Festas em Honra de Nossa Senhora das Dores, em Maio, em Alhadas, entre muitas outras.
E se maio é o Mês de Maria e se multiplicam as homenagens às diversas Nossas Senhoras, junho é na Figueira da Foz o mês de São João. E, aqui, aconselhamos vivamente a terminar a estação nas celebrações que decorrem por toda a cidade a partir de meados do mês, incluindo Feira Popular junto ao Forte de Santa Catarina.
6. Explorar os miradouros
A Figueira da Foz tem, provavelmente, as melhores vistas do mundo, sobretudo ao entardecer. Patriotismo de cidade à parte, temos mesmo alguns miradouros de tirar a respiração e que nesta época de natureza abundante ganham ainda mais beleza, sobretudo, nesta altura, os que permitem contemplar as zonas rurais.
Desta vez sugerimos pegar nas bicicletas e ir à descoberta do Paião e do seu miradouro da Fonte de São João, um tesouro “escondido” na margem sul, que está a ser reabilitado pela Junta de Freguesia e oferece um espaço fantástico de descanso e contemplação, sobre os campos agrícolas do Mondego e a sua abundante avifauna.
7. Visitar as Lagoas de Quiaios
São três, Braças, Vela e Salgueira e marcam de verde e azul a paisagem, separando as zonas agrícolas a leste e a Mata Nacional que protege estas zonas húmidas da erosão costeira e do avanço das dunas.
Esta mata foi gravemente afetada por um grande incêndio recente, mas a natureza já volta a mostrar a sua garra, sobretudo em torno das lagoas e principalmente da maior, a Lagoa da Vela, com espaços de lazer onde se pode relaxar e apreciar a bela vista e as muitas aves, sobretudo garças ou aves de rapina.
Segundo o Município figueirense, «a Lagoa da Vela, que integra a Rede Natura, é uma das maiores lagoas naturais da Península Ibérica e um excelente ponto de observação de aves (cerca de 132 espécies distintas)». Foram construídos recentemente, de resto, dois pontos de observação de avifauna (na Vela e nas Braças). Os caminhos têm sido melhorados e conta também com um novo passadiço na margem oeste.
Se estiver na Figueira da Foz, isto é, a sul da Serra da Boa Viagem, ir às Lagoas é um bom pretexto para dar uso à bicicleta e “inaugurar” a nova estrada panorâmica do Cabo Mondego, passando pela Murtinheira e pelas partes da mata de Quiaios intocadas pelo fogo, onde a Primavera é certamente inspiradora e rejuvenescedora. Com paragem de reabastecimento, claro, na típica vila de Quiaios.
8 Descobrir o Dólmen das Carniçosas
Provavelmente já ouviu falar mas nunca teve oportunidade de lá ir. Esta é a altura certa. Este monumento com cerca de 6 mil anos localiza-se na Serra das Alhadas e está integrado na chamada Rota do Megalitismo, que abrange as serras das Alhadas, de Brenha e da Boa Viagem. Trata-se de uma estrutura funerária de grandes dimensões e razoavelmente preservada, enquadrada por extensão de mata e certamente um ponto de paragem obrigatório para os fãs das antiguidades. E para os fãs de um bom passeio de bicicleta até ao interior do concelho com tempo ameno e a natureza em flor.
Os acessos estão razoavelmente bem sinalizados, a placa informativa está em bom estado e até há mesas de piquenique por perto. Depois, no Inverno, sugerimos vivamente uma visita ao Museu Santos Rocha, onde todo o espólio recolhido neste monumento, sobretudo pelo próprio arqueólogo António Santos Rocha, está exposto e contextualizado. E, por favor, não deixe grafittis ou lixo neste monumento nacional…
9. Conhecer a Charca de Noé da Figueira da Foz
Sim, existe. E é quase no centro da cidade. É uma proposta “pequenina” mas temos que a fazer, porque é um projeto didático e científico de muito mérito, que se deve ao jovem biólogo ativista figueirense Jael Palhas e porque apresenta, num espaço tão reduzido, uma impressionante variedade de espécies botânicas e animais, sobretudo batráquios.
Este charco especial fica na Praça da Quinta da Borleteira, entre o Centro Escolar e o E-Leclerc e faz parte de uma rede de Charcas de Noé nacional, que procura sensibilizar para a preservação da flora e fauna aquáticas e para os espaços húmidos. Um mini-oásis refrescante, rodeado de pinheiros mansos, ideal para visitar em família com crianças, até porque a Praça também tem um parque infantil. (nota às entidades locais: a falta que faz um bom painel informativo…)
10 Desportos de grupo ao ar livre
Junte um grupo de amigos, aproveite o bom tempo e a natureza frondosa e vá jogar basquete ou futebol. Primavera também é tempo de convívio por excelência e a época chama ao outdoor. Por isso, desempoeire a bola e as sapatilhas e comece a mobilizar uma equipa, sítios não faltam e com grande qualidade. No basquetebol já fizemos o trabalho por si, no nosso Guia dos courts (ou quadras, como dizem os nossos irmãos brasileiros) de basquete públicos existentes no concelho, alguns deles em espaços verdes, como os das Abadias ou do Campo da Cerâmica, ambos no centro da cidade. Mas há campos de futebol e basquete por todo o concelho. Just do it.