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Salinas, Marnotos e Salineiros: Homenagem às “Gentes do Sal” da Figueira da Foz

Sobre o sal da Figueira da Foz há registos escritos de 1092 e 1166 que comprovam que nestas datas já se produzia sal nesta região. Sabe-se também que nas margens do Mondego, defronte de Tavarede, já existiam marinhas no ano de 1178, no reinado de D. Afonso Henriques.

Também existiriam algumas no couto de Lavos no ano de 1236, no reinado de D. Sancho II, e no campo da Morraceira no ano de 1520, no reinado de D. Manuel I.

Há ainda registos a partir de 1611 sobre a exportação de sal para Espanha, Terra Nova, Escócia e Açores. Em 1790 existiam 1150 marinhas na Figueira da Foz, ocupando 1150 obreiros e produzindo 34.500 moios de sal. Em 1791 havia 1.115 salinas na Figueira da Foz mas em 1936 só havia 500.

Em meados do século XX havia um total de 229 marinhas de sal, distribuídas pela Ilha da Morraceira (141 marinhas numa superfície de 519 hectares), pela margem esquerda do Braço Sul e Ínsua D. José (71 marinhas numa superfície de 249 hectares) e na margem direita do Braço Norte (17 marinhas ocupando cerca de 30 hectares). Em 2020, havia cerca de 40 salinas ativas na Figueira da Foz.

O sal já teve o seu tempo, quando ao longo dos séculos foi uma das principais riquezas da Figueira, sendo transportado ao longo do Rio Mondego para abastecimento do interior das Beiras. Em 1950 produziam-se 30.000 toneladas para a salga das carnes, do bacalhau e de outros peixes, e mais de 1.300 trabalhadores estavam ligados à produção do sal na Figueira da Foz.

O sal é hoje menos utilizado e as salinas são hoje recordadas como uma das atividades mais importantes da Figueira da Foz de outros tempos.

Núcleo Museológico do Sal

São estes tempos que a Câmara Municipal da Figueira da Foz pretendeu recordar com a construção do Núcleo Museológico do Sal da Figueira da Foz.

Este Núcleo Museológico situa-se em Armazéns de Lavos, inserido na Salina Municipal do Corredor da Cobra, adquirida, em 2000, pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, que a retirou do abandono. O Núcleo Museológico do Sal foi inaugurado em 17 de agosto de 2007 com o objetivo de interpretar, valorizar e difundir o trabalho salineiro.

O Núcleo Museológico do Sal integra um Armazém de Sal, uma Rota Pedestre pelo salgado, uma Rota Fluvial pelo estuário do Rio Mondego e ainda um observatório de aves. Uma visita ao Núcleo Museológico do Sal recorda-nos também os tempos difíceis do trabalho da produção do sal.

Os homens reparavam as marinhas, extraíam o sal e enchiam as gamelas. As mulheres transportavam o sal à cabeça, em cestas de verga, das salinas até aos armazéns e destes para os barcos com destino aos Armazéns de Lavos e à Figueira da Foz.

Corpos femininos, descalços, balanceavam sob o peso imenso das canastras. No regresso a casa, estas canastras serviam, muitas vezes, de berço às crianças que acompanhavam as mães durante o dia de trabalho. Mais tarde, com apenas 10 anos, ou pouco mais, muitas destas crianças foram trabalhadores do sal.

A preparação das marinhas começa em Maio, com as marinhas alagadas. Nesta fase procede-se ao levantamento das “esburras” e esgotam-se as marinhas durante a baixa-mar. De imediato, o marnoto faz o ajuntamento das lamas com um rodo de madeira, chamando-se a este processo o “estranger” da marinha.

As lamas e os limos são depositados em montes, sobre os marachões e cilhas, e, depois de secos, as mulheres retiram-nos para fora da marinha, em gamelas ou cestas, chamando-se a este trabalho o “escoiçar”.

Na maré cheia enchem-se as marinhas de água salgada. A água evapora-se, e quando se atinge uma determinada concentração de sal, a água passa para talhões progressivamente mais pequenos: as vasas, depois as cabeceiras e finalmente os talhos.

A exploração das marinhas era feita em regime de parceria, sendo dois terços da produção para o proprietário e um terço para o marnoto.

As mulheres transportavam o sal à cabeça, em cestas de verga, das salinas até aos armazéns e destes para os barcos com destino aos Armazéns de Lavos e à Figueira da Foz. Os homens reparavam as marinhas, extraíam o sal e enchiam as gamelas.

Tempos difíceis que aqui se recordam, em homenagem às “gentes do sal”.