O Palácio Conselheiro Branco localiza-se na vila de Maiorca, concelho de Figueira da Foz. Maiorca foi sede de concelho de 1834 até 1855, data a partir da qual integrou o concelho da Figueira da Foz. O Palácio foi construído no final do século XIX, para residência de António Roberto de Oliveira Lopes Branco, quando Maiorca já não era sede de concelho.
O ano de 1884 terá sido a data para o início da obra, sendo a arquitetura do edifício de linhas neoclássicas, influenciada, talvez, pelo edifício da antiga feitoria inglesa, no Porto, construída em 1785. O nome de André de Assunção tem surgido como o seu primeiro mestre de obras, embora não se conheçam quaisquer outras informações sobre a sua obra ou, sequer, sobre a sua participação no desenho ou na construção deste palácio (IPPAR).
António Roberto de Oliveira Lopes Branco nasceu em 1806 na freguesia de Maiorca. Bacharel em Leis pela Universidade de Coimbra, fez carreira na magistratura e na política, onde atingiu os mais altos cargos. No ano letivo de 1826-1827, enquanto quartanista de Direito na Universidade de Coimbra, integrou o Batalhão de Voluntários Académicos, em defesa da Carta Constitucional, com apenas 19 anos. Foi Juiz de Fora da Figueira da Foz, Governador Civil de Coimbra e de Viseu, Juiz de Direito de 1.ª instância no julgado de Pombal, Juiz da Relação no Porto, Deputado, Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e Ministro da Fazenda.
António Branco foi deputado em várias legislaturas (1842-1845; 1846; 1848-1851; 1851-1852; 1860-1861; 1861-1864; 1868-1869) e desempenhou importantes cargos ao serviço do Rei D. Luís I, entre os quais se destacam o de Conselheiro de Estado, Secretário de Estado, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Ministro dos Negócios da Fazenda do governo de Saldanha (1849) e Ministro de Estado honorário. Foi Governador Civil de Coimbra de 1842 a 1843, e depois em 1868 (de fevereiro a maio), e Governador Civil de Viseu de 1847 a 1848.
Foi um grande impulsionador da maçonaria, fundador da loja conimbricense “Restauração”, enquanto Governador Civil de Coimbra, membro da Loja “Legalidade” no Porto, sob o nome de “Pedro IV”, que já trazia de Coimbra, e exerceu o cargo de Diretor da Venerável Irmandade da Lapa entre 1854 e 1859. Em 1846 foi opositor do cabralismo, mas ofendeu-se com o governo de Palmela e passou a seguir Saldanha depois de 6 de outubro de 1846, do qual foi Ministro da Fazenda entre 29 de janeiro e 18 de junho de 1849. Na década de 1850 foi Magistrado Judicial na Relação do Porto, foi Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto entre 1854 e 1861.
A sua enorme importância e influência criou-lhe muitos inimigos. Segundo o Marquês de Lavradio, era “homem sem princípios fixos, isto é, homem de ganhar, pois tem pertencido a todos os partidos’ e enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que ganhou sucessivamente em 7 mandatos, de 1854 a 1861, recebeu inúmeras ofensas.
Na origem das ofensas estava a colocação do seu retrato majestoso na Santa Casa da Misericórdia do Porto, pelo que foi apodado de «vaidoso», bem como a aquisição de «colchas para o Hospital, que vierão de Inglaterra», o que foi considerado «um grande attentado contra a Industria nacional». Para além disso, a abertura de concursos públicos para o provimento de funcionários acabaria por ocasionar vários ataques por parte dos candidatos preteridos (Periódico dos Pobres no Porto de 23-2-1857).
Apesar dos ataques, é certo que Lopes Branco desencadeou uma verdadeira revolução nos procedimentos de gestão e de organização das instituições tuteladas pela Santa Casa da Misericórdia do Porto, nomeadamente no Hospital de Santo António, «aonde a Santa Casa manda que se recolham, e se tratem, quantos desgraçados aparecerem à porta dele, a pedirem que os socorram em suas enfermidades», pelo que o designa como «grande asilo dos desvalidos e desgraçados».
Foi e é uma figura notável da vila de Maiorca, distinguido com o brasão de armas em 1862. Voltou ao Tribunal da Relação de Lisboa em 1863, ao qual presidiu por Decreto de 24 de fevereiro de 1871. Em 1876 ascendeu a Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
Depois da morte de António Branco, em 1889, o palácio recebeu uma escola de freiras, um consultório médico e uma creche, tendo sido adquirido em 1954 pela Câmara Municipal da Figueira da Foz e na década de 60 aqui se instalou a Guarda Nacional Republicana. Todas estas diferentes funcionalidades exigiram obras diversas no Palácio que alteraram e degradaram os seus bonitos espaços interiores.
Com a saída da GNR, o edifício entrou em maior degradação, pelo que foram adjudicadas obras de recuperação em 2018, com um custo de 140 mil euros e um prazo de execução de 90 dias, com “intervenções ao nível da cobertura total, janelas, portadas e pintura exterior´”, cujos trabalhos se iniciaram em janeiro de 2019, mas nunca terminaram.
Devido aos “excessivos” incumprimentos dos prazos, a Câmara da Figueira da Foz aprovou, por unanimidade, no dia 2 de março de 2022, uma proposta de rescisão litigiosa com o empreiteiro responsável pela intervenção no Palácio Conselheiro Branco.
O Palácio Conselheiro Branco foi classificado de Interesse Municipal em 2005 (Edital n.º 137/05 da CMFF, publicado em 31-03-2005, com adenda retificativa de 13-06-2005).
NR (janeiro 2024): Este edifício está a ser reabilitado pelo Município para albergar, entre outras valências, um centro de interpretação do arroz do Baixo Mondego.