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Fortim de Palheiros. Um marco da história militar de Buarcos

O Fortim de Palheiros situa-se em Buarcos, junto à antiga povoação de Palheiros. É um excelente exemplar de arquitetura militar do séc. XVI, constituído por uma bateria de planta semicircular, com parapeitos rasgados para 10 canhoneiras, dos quais subsistem apenas 8. Tinha a função de cruzar fogos com a fortificação de Buarcos, a norte, e o Forte de Santa Catarina, a sul, na defesa da enseada de Buarcos.

Um monumento classificado a precisar de valorização

A sua ação era conjugada com o apoio da infantaria e da cavalaria, impedindo eventuais desembarques. Dispunha de uma Casa da Guarda, hoje desaparecida. Teve vários nomes, tais como Fortim de Palheiros, Fortim da Praia, Fortim do Centro e Reduto Central da Praia. Alguns defendem que o Fortim de Palheiros terá sido construído no reinado de D. Manuel I (1495 a 1521), outros afirmam remontar ao reinado de D. João III (1521-1557).

No contexto da Guerra da Restauração da Independência (1640-1668) terá sido recuperado.
Posteriormente terá sido reconstruído e reforçado por D. Miguel, durante o seu curto reinado de 4 anos (1828-1832), durante a guerra civil portuguesa entre liberais e absolutistas (1828-1834), tendo sido abandonado no final do conflito, caindo em ruínas.

A Figueira foi palco das lutas entre liberais (D. Pedro) e absolutistas (D. Miguel). Em 24 de Abril de 1834, pelo Tratado de Londres, a Quádrupla Aliança decide-se pela intervenção militar contra D. Miguel, tendo o almirante inglês Charles Napier desembarcado tropas na Figueira da Foz onde derrotaram as tropas absolutistas de D. Miguel.

O Fortim de Palheiros era então constituído por uma muralha com 2,5 metros de espessura, com 10 peças de artilharia (canhoeiras) que cruzavam fogo com o Forte de Santa Catarina e a Fortaleza de Buarcos, defendendo a Figueira das invasões por mar.

Em 1834, a 8 de maio, as tropas liberais fiéis a D. Pedro, comandadas por Charles Napier, maioritariamente constituídas por marinheiros ingleses, desembarcam na enseada de Buarcos e avançam sobre a Figueira da Foz, entretanto abandonada pelo exército absolutista fiel a D. Miguel. A Câmara Municipal é demitida e foi empossada uma equipa presidida pelo Juiz José da Costa Dinis e pelos Vereadores José Tavares de Goes Nobre, João Fernandes Tomás, Francisco Luís Afonso da Costa e Joaquim Malheiro de Melo que geriu o município até às eleições de 19 de setembro de 1834 (ganhas por Joaquim da Silva Soares).

As tropas de Napier seguiram da Figueira da Foz para Leiria, Ourém e Torres Novas e o general espanhol José Ramón Rodil y Campillo entrou em Portugal através da Beira e Alto Alentejo com uma expedição de 15 mil homens também em apoio de D. Pedro.

Em 1834, a 16 de maio, dá-se a derradeira batalha entre as tropas fiéis aos irmãos desavindos, D. Miguel e D. Pedro, exatamente na Asseiceira, próximo de Tomar.

As tropas liberais de D. Pedro saem vitoriosas, a paz é assinada em Évoramonte e D. Miguel parte de Sines para o exílio no dia 1 de junho de 1834, donde só retornaria em 1967, quando os seus restos mortais foram trasladados do mosteiro de Engelberg, em Gossenbach, para o mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

D. Pedro assumiu a regência mas, pouco tempo depois, em 18 de setembro de 1834, sua filha D. Maria, com apenas 15 anos, foi aclamada rainha e o casamento com o seu tio D. Miguel foi anulado. Em 1880, a Praça Nova passou a chamar-se Praça 8 de Maio, para comemorar a entrada vitoriosa do exército liberal na Figueira da Foz a 8 de maio de 1834.

Em 1909, o rei D. Manuel II vendeu o fortim em hasta pública, tendo sido adquirido pela quantia de 500.100 reis por Joaquim Felisberto da Cunha Sotto Maior, um grande empresário com fortuna no Brasil e estabelecido na Figueira da Foz, que tinha iniciado a construção da sua residência, aqui bem perto, em 1902.

Em 1963, os restos do antigo fortim foram classificados como Imóvel de Interesse Público, com a designação de “Forte dos Redondos”, pelo Decreto n.º 45.327, publicado no Diário do Governo, I Série, n.º 251, de 25 de outubro. Em 1967, a denominação foi retificada para “Fortim dos Palheiros” pelo Decreto n.º 47.508, publicado no Diário do Governo, I Série, n.º 20, de 24 de janeiro. Em 1974, os seus proprietários realizaram trabalhos de consolidação das ruínas, sob a orientação da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Em 2011 a Câmara Municipal da Figueira da Foz colocou no local um marco identificativo.

AUTOR

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Fernando Curado

Natural do Alqueidão, Figueira da Foz, Fernando Curado é um engenheiro civil aposentado, especializado em engenharia sanitária. Esteve sempre ligado a entidades públicas. Atualmente reside em Beja. Há 10 anos, assumiu estudar a história da Figueira da Foz e divulgá-la de forma sintética. Já o faz desde 2015. E está só no início.