Viver a Figueira 12 meses por ano

140 anos. O Nascimento de uma Cidade

No final do século XVIII, a aglutinação de vários casais que se chamavam o Paço, a Abbadia, o Monte, o Valle, as Lamas, e outros, deu origem a uma só povoação, com aproximadamente 2000 habitantes, a qual, por decreto de 12 de março de 1771, foi elevada à categoria de vila com o nome de “Figueira da Foz do Mondego”. Esta vila cresceu muito rapidamente e, 111 anos depois, em 20 de setembro de 1882, ascendeu à categoria de cidade, com a denominação atual de “Figueira da Foz”, “atendendo a ser aquela uma das mais importantes vilas do reino pela sua população e riqueza”.

Quarenta e oito dias antes, a 3 de agosto de 1882, D. Luís I, acompanhado da rainha D. Maria Pia de Saboia, do príncipe D. Carlos, do infante D. Afonso e de vários ministros, esteve na Figueira da Foz a inaugurar o troço de linha férrea que nos ligava à Pampilhosa.

O advogado e empresário Dr. Francisco Lopes Guimarães era então o Presidente da Câmara Municipal, cargo que desempenhou de 1880 a 1886, pertencendo ao Partido Progressista que na altura era oposição ao governo do Partido Regenerador de Fontes Pereira de Melo que governou quase ininterruptamente de 1871 a 1886.

Entre 1870 e 1890 a Figueira da Foz desenvolveu-se intensamente. O comércio de exportação de vinhos para o Brasil e para França, de sal para a Terra Nova, de madeira para o Sul de Espanha e de laranja para Inglaterra permitiu a acumulação de capitais.

O fluxo turístico aumentava e muitos investimentos foram feitos na área da hotelaria e dos espetáculos. A Figueira da Foz desenvolveu-se como nunca! Assistiu-se a um forte desenvolvimento, com fortes reflexos urbanísticos, realçando-se:

  • O surgimento das indústrias do vidro, cerâmica e mineira;
  • As obras de requalificação portuária;
  • O início da construção do Farol Velho em 1855, ficando as obras concluídas em Abril de 1858;
  • A construção do Bairro Novo de Santa Catarina, da iniciativa da Companhia Edificadora Figueirense, fundada em 1861 pelo Eng.º Francisco Maria Pereira da Silva;
  • A instalação da fábrica de vidro do Cabo Mondego em 1872;
  • A inauguração do Teatro Príncipe D. Carlos em 8 de Agosto de 1874;
  • A inauguração do AMERICANO em dezembro de 1875, começando a transportar passageiros em 28 de Agosto de 1876 (em 1888 foram acrescentadas 2 extensões à linha: uma que ligava o cais novo ao forno de cal da Salmanha e outra deste último ponto à CP);
  • A construção da estrada para Leiria em 1875;
  • A fundação da metalúrgica Mota de Quadros em 1878;
  • A fundação dos Bombeiros Voluntários em 1882;
  • A chegada do comboio à Figueira da Foz em 3 de Agosto de 1882. Neste dia, 30 anos depois da visita real de D. Fernando II, D. Luís I visita a Figueira da Foz, acompanhado da rainha D. Maria Pia de Saboia e de vários ministros do seu governo, com o fim de inaugurar o troço que ligaria a vila da Figueira da Foz à Pampilhosa e à linha da Beira Alta (Pampilhosa – Vilar Formoso). Quarenta e sete dias depois, a Figueira da Foz passaria à categoria de cidade;
  • A inauguração do Teatro-Circo Saraiva de Carvalho, antecessor do Grande Casino Peninsular, em 3 de setembro de 1884;
  • A formação da primeira empresa armadora em 1885;
  • A adjudicação do abastecimento de água em 1886;
  • A chegada da linha férrea do Oeste em 1888;
  • A criação da Aula de Desenho Industrial em 1888 e em 1889 a Escola Industrial;
  • A iluminação a gás em 1889;
  • A fundação das Oficinas do Mondego em 1891;
  • A construção do Jardim Municipal em 1891;
  • A construção do Mercado Municipal entre 1889 e 1892;
  • A constituição da Associação Naval 1.º de Maio em 1893, sucedendo à extinta Associação Naval Figueirense;
  • A inauguração do Museu em 1894;
  • O início da construção dos Paços do Concelho em 5 de Maio de 1894, tendo ficado concluído no final de 1897;
  • A fundação do Ginásio em 1895;

Foram estes os factos que mereceram a elevação da Figueira a cidade em 20 de setembro de 1882:

“Attendendo a que a Villa da Figueira da Foz, no districto de Coimbra, é actualmente uma das mais importantes do reino pela sua população e riqueza; e desejando por ocasião da minha recente visita áquella villa, dar aos habitantes d’ella um solemne testemunho de apreço pelos honrados esforços que têem empregado para o seu progressivo desenvolvimento: hei por bem fazer mercê á dita villa da Figueira da Foz de a elevar á categoria de cidade com a denominação de Cidade da Figueira da Foz; e me apraz que n’esta qualidade gose de todas as prerrogativas, liberdades e franquias que directamente lhe pertencerem, devendo expedir-se á respectiva camara Municipal a competente carta, em dois exemplares, uma para titulo d’aquella corporação e outra para ser depositada no real Archivo da Torre do Tombo. O ministro e secretario d’estado dos negócios do reino assim o tenha entendido e faça executar. Paço, em 20 de setembro de 1882”.


A Figueira da Foz tinha então pouco mais de cinco mil habitantes (em 1878 a Figueira tinha 1080 fogos e 5676 habitantes e Buarcos 800 fogos e 3182 habitantes), aos olhos de hoje uma pequena cidade, como bem mostram as fotos da época.
Quatro meses depois, em janeiro de 1883, na revista O Ocidente escrevia-se:


“A Figueira é das povoações de Portugal que nos últimos tempos mais se tem desenvolvido (…). Ainda nos princípios deste século passado era apenas uma aldeia com 300 habitantes e pouco mais desenvolvimento tinha, quando em 1771 El-Rei D. José a elevou à categoria de vila. (…) Hoje, a Figueira é uma cidade que está crescendo a olhos vistos, organizando companhias edificadoras que têm aumentado consideravelmente o número de edificações, ascendendo já a não menos de 1600 fogos, com cerca de 6000 habitantes. Possui edifícios notáveis, incluindo um magnífico teatro e seu porto está defendido por uma doca de construção recente (…). O seu aspecto é alegre e festivo e de um delicioso pitoresco, a par do seu belo clima. Este conjunto de atractivos, chama um grande número de banhistas, na estação própria, às suas magníficas praias.
O seu comércio é importante, para o que lhe basta ter um magnífico porto de mar por onde se exporta grande quantidade de sal, azeite, vinhos e cereais, etc.
Agora o caminho-de-ferro da Beira Alta vai dar-lhe mais elementos de vida e desenvolvimento assegurando um futuro próspero a esta boa terra.”