O dia 24 de agosto foi o feriado municipal da Figueira da Foz de 14 de junho de 1911 a 12 de junho de 1929. Comemorava-se então a eclosão da revolução liberal no Porto, a 24 de agosto de 1820, na qual o figueirense Manuel Fernandes Tomás tivera um papel decisivo. Mas, em 12 de junho de 1929, em plena “ditadura nacional”, a Câmara Municipal, dirigida por uma Comissão Administrativa presidida por Melo Cabral, deliberou que o dia de S. João passaria a ser o feriado municipal. Celebra-se a 24 de junho, dia do nascimento de S. João Batista, o santo que batizou Jesus Cristo nas águas do rio Jordão, o santo protetor dos casados e dos doentes.
Reconhecemos S. João Batista pela sua veste de pele de camelo, quase sempre junto a um cordeiro, imagem que evoca Jesus, o Cordeiro de Deus. As festas de S. João comemoram-se na Figueira muito antes de 1929, isto é, muito antes do dia 24 de junho ser feriado municipal.
Em 17 de maio de 1890 a Câmara deliberou apoiar financeiramente os festejos nesta cidade, consignando-lhe uma verba de 100 mil reis “que anualmente se dará à Comissão promotora dos festejos, com a condição de a mesma Comissão submeter à aprovação da Câmara o programa, e de se sujeitar às modificações que no mesmo programa forem introduzidas…”. Terá sido o primeiro apoio financeiro da Câmara aos festejos populares de S. João, porque teve de ser feito um orçamento suplementar para que se pudesse pagar os 100 mil reis naquele ano de 1890.
No final do século XIX a Comissão de Festas de S. João colocava coretos na Praça 8 de Maio, na Praça do Comércio e na Rua das Rosas, para neles tocarem as filarmónicas figueirenses. Colocavam-se postes no cais, nas praças, na rua das Flores, na rua das Canas, e noutras, queimava-se fogo preso na Avenida Saraiva de Carvalho e o coreto da Praça 8 de Maio permanecia até ao fim da época balnear. Dançavam os ranchos do Vapor, das Rosas e dos Carvoeiros.






Ponto alto das festas de S. João era a «Bandeira» que se realizava a 24 de junho. Vinha a bandeira da Igreja de S. Julião, pelas ruas do Paço e da Oliveira, até à Praça do Comércio, onde dava 3 voltas, findas as quais os mordomos entravam a cavalo, estacionando a bandeira ao fundo da Praça do Comércio, seguindo depois para a Praça Nova.
Em 18 de junho de 1890 a Câmara autorizou a Comissão dos festejos de S. João, na condição de reporem tudo no estado anterior, a abrir buracos nas praças, na Ruas das Flores e no Cais, para que colocassem bandeiras e instalassem canalizações de água e gás, e construíssem um lago e um pavilhão em cada praça e utilizassem as colunas dos candeeiros de iluminação pública para colocarem sobre elas outras iluminações.
Particulares e ranchos pediam à Câmara licença para ornamentar as ruas, abrindo buracos, colocando postes e instalando pavilhões, como Joaquim da Costa e Abreu e António Migueis Fadigas pediram para a Rua dos Banhos, ou o Rancho dos Carvoeiros para o Largo 11 de Setembro (atual Largo do Carvão), todos em junho de 1890. Os comércios das áreas festivas também se iluminavam, como requereu António Marques de Carvalho Cotim para a sua loja da Rua das Flores, o qual também requereu a abertura de buracos na Rua das Canas em junho de 1890.
Em 17 de junho de 1891, Benedicto Cortez, negociante, morador na Rua do Melhoramento, pediu licença à Câmara para “levantar um pavilhão” e abrir buracos para colocar postes com bandeiras na Rua dos Banhos, para a atuação do Rancho das Sereias; uma Comissão de ornamentação fez idêntico pedido para a Praça do Comércio e para o Largo Luiz de Camões. Joaquim Pereira Júnior, presidente da Direção da Filarmónica 10 de Agosto, pediu autorização para construir um coreto na Praça Nova onde tocaria esta filarmónica nos dias 23 e 24 de junho de 1891. Carlos Nestório Dias pediu licença em 1 de junho de 1892 para “levantar um pavilhão” no Largo de S. João do Vale, de 13 a 29 de junho, durante os festejos de S. João.
Em 15 de junho de 1892 a Comissão dos festejos de S. João, da Praça Nova, pediu licença para montagem de um coreto e para a iluminação das árvores daquela praça de 23 a 30 de junho. Na mesma data, a Câmara mandou intimar os arrendatários das barracas do Largo Luís de Camões para as despejarem no dia 23, indemnizando-os do tempo que tenham pago desde 24 a 30 de junho.

Nas festas de S. João de 1893 foram montados pavilhões na Praça Luiz de Camões, na Praça Nova da Alegria, na Av. Saraiva de Carvalho e na Rua Vasco da Gama. Joaquim Alves Fernandes Águas organizou a atuação do Rancho das Carvoeiras no Largo do Carvão, João Bento Pinto dirigiu a ornamentação do Largo da Igreja, José Maria Francisco levantou o mastro na Rua dos Banhos, José Bento Pinto representou os festejos no Largo do Paço, Francisco da Cunha Reis colocou um pavilhão na Rua Vasco da Gama e Benedicto Cortez ornamentou a Rua dos Banhos.
Em Buarcos, Abel Baptista organizou a atuação do Rancho “Recreio da Infância”, Narciso Vaz representou o Rancho “Torre Eiffel”, e Augusto Cruz foi o representante do Rancho “Buarquense” que atuou em pavilhão construído no Largo da Alegria.
Em 30 de maio de 1894 António Rodrigues de Paula Santos pediu licença para levantar um pavilhão num largo ao fundo da Rua do Circo para os festejos dos santos populares.
Em 16 de junho de 1897 a Comissão de Festas de S. João pediu licença para lançar fogo de artifício no dia 24 seguinte, entre a rampa da Alfândega e a rampa da Praça Nova. A 22 de junho de 1898 a Câmara aprovou a montagem de um coreto na Rua das Canas, a pedido de Abílio Pinto de Sousa, para os festejos de S. Pedro, e acedeu ao Dr. João Antunes Pereira das Neves, em nome da Comissão dos populares e tradicionais festejos de S. João, para que no salão nobre e vestíbulo dos Paços do Concelho fosse distribuído um bodo aos pobres pelas damas figueirenses.
Em 14 de junho de 1899, Francisco Ramos requereu a ornamentação do Largo do Paço, por ocasião dos festejos de S. João e S. Pedro.
Em 21 de junho de 1899 a Câmara deliberou vedar as entradas do Jardim Municipal na noite de 23 para 24 de junho, e solicitar ao Administrador do Concelho o policiamento do Jardim nessa noite.
Em 1905 foi José Maria da Silva e Castro que em nome da Comissão de Festejos de S. João pediu no dia 10 de maio licença para “levantar pavilhões, cravar postes e fazer canalizações para gaz em diversas ruas, largos e praças desta mesma cidade”.
Em meados do século XX as festas de S. João iniciavam-se na manhã do dia 23 de junho, com uma festiva alvorada com salvas de morteiro e “Zés Pereiras”. Na noite do dia 23 havia a concentração e desfile das Corporações de Bombeiros, com as suas viaturas e demonstrações com o material motorizado. A noite continuava com um grandioso arraial no Mercado Engenheiro Silva, fogueiras, concertos musicais, exibição de ranchos e danças populares nas ruas da cidade, terminando com uma fantástica sessão de fogo de artifício.
“Ao início da noite o polícia Baptista regulava o trânsito, o Jáime vendia “O Século” e o “Taxeira”, o “Palhinhas”. No jardim, a Sofia fazia as pipocas e muitos saboreavam um gelado do Chico!”. Na madrugada do dia 24 havia o tradicional banho santo, a procissão e a bênção do mar, e à noite continuava o arraial no Mercado, os concertos musicais, os ranchos e as festas no Casino.

O banho santo da Figueira, bem gelado em 24 de junto, liberta-nos de todos os males, pelo que noutras localidades se realiza a 29 de agosto, um banho bem mais quente, comemorando a data em que S. João Batista faleceu, na Galileia, degolado, a mando do governador Herodes.
As festas de S. João prolongavam-se pelos dias seguintes, com exposições, conferências, provas automobilísticas, festivais de folclore, atividades desportivas, a eleição da Rainha do Mercado, os cortejos de filarmónicas e de carros alegóricos. Havia as corridas de bicicleta nas ruas do Príncipe e Fernandes Tomás e as associações aproveitavam para obter receitas com estas e outras atividades.
Em 1929, ano em que foi instituído o feriado municipal a 24 de junho, começaram a efetuar-se os bailes de S. João dentro do Mercado Municipal.
De 1940 a 1960 os bailes de S. João atingiram grande popularidade, tendo sido frequentados por imensas pessoas, algumas vindas em excursões de vários pontos de Portugal, e mesmo de Espanha. O baile do Mercado era conhecido pelo “baile das cebolas”, o “baile das couves’” e o “baile dos magalas”. E o Mercado, nessa noite de 23 para 24 de junho, era apelidado de “cabaret da couve”. O baile do Mercado era frequentado por imensos magalas fardados, porque a Figueira tinha então dois grandes quartéis, o CICA 2 e o RAP 3, que nas noites de S. João conseguiam autorização para uma ‘noite alargada’.
Em alguns anos chegaram a realizar-se três bailes seguidos, nos dias 22, 23, e 24 de junho, sendo o mais frequentado o da noite de 23 para 24.
A entrada para o baile fazia-se pelo portão do lado do rio e tinha um preço quase simbólico que servia para pagar a orquestra, que quase sempre era a do “Quiaios Clube” com o vocalista Victor Melúrias. Chegada a madrugada, os magalas aninhavam-se debaixo das bancas, a dormitar, e como a fome apertava, iam estendendo uma mão mariola por debaixo das tendas que cobriam as bancas, e lá vinha uma maçã, uma pera, uma banana ou outra fruta qualquer para matar a larica que começa a apertar.




Por isso, alguns donos de banca dormiam no mercado, de modo a evitar abusos maiores! Os quartéis foram progressivamente encerrados, em 1960 o Batalhão de Metralhadoras nº 2, em 1975 o CICA2, em 1977 o RAP3 e em 2004 encerrou a EPST. Após o 25 de abril de 1974 os bailes deixaram de se realizar no Mercado, fecharam os quarteis e assim acabaram os soldados e a designação de ‘o baile dos magalas’.
Atualmente as festas de S. João continuam bem animadas. No dia 23 há concertos musicais, marchas populares na Avenida 25 de Abril, arraiais populares em diversas ruas, um espetáculo piromusical e o tradicional banho santo na madrugada do dia 24. O dia 24 continua com a abertura da Feira das Freguesias, muitos concertos musicais e o desfile das marchas populares no Coliseu.
O S. João é a festa principal da Figueira. Uma festa com muitas diversões, jogos, pirotecnia, marchas populares, arraiais, concertos musicais, o banho santo, a entrega de distinções honoríficas, muita comida, cerimónias religiosas, a procissão e a bênção do mar.