A Rua da República tem este nome por requerimento de Miguel Santos, e outros cidadãos desta cidade, logo após a queda da monarquia. O citado requerimento foi presente na sessão de Câmara de 14 de outubro de 1910, tendo sido aprovado em sessão de 26 de outubro seguinte. O percurso da Rua da República define-se entre a E. N. n.º 109, a nascente, e a entrada da Praça 8 de Maio, a poente.
Muitos séculos atrás, o conjunto da Avenida Saraiva de Carvalho, da Rua Fernandes Tomás e da Rua da República, juntamente com o atual rio, formava o lindo e imponente estuário do Mondego daqueles tempos, cuja barra se situou entre os penedos de Lares e de Moinho do Almoxarife.
Em 1166, numa doação de D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra referia-se a importância do Mondego, como sendo o rio “por onde entravam os navios cuja portagem e mais direitos…”.
A partir do século XVI a Figueira da Foz é citada em muitos documentos com a designação de “Figueira da Foz do Mondego”, a “foz da Figueira” ou o “porto de Buarcos”.
No século XVII surgiram na Figueira os primeiros estaleiros de construção naval e o seu porto era normalmente denominado de “porto de Buarcos” porque Buarcos continuava a ser a povoação mais importante da foz do Mondego, sede de concelho durante cinco séculos (de 1342 a 1836). O porto era a maior riqueza da Figueira, mas a foz do Mondego foi assoreando, apresentando no século XVII três reentrâncias na sua margem direita.
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A reentrância de montante deu origem à Praia da Reboleira (atual Praça Nova), a de jusante à Praia da Fonte (atual Jardim Municipal) e a do meio à Praia da Ribeira (atual Praça Velha ou Praça do Comércio).
Entre o Mondego e o Casal das Lamas havia praias, as quais coincidem com as atuais ruas da República, Manuel Fernandes Tomás e Saraiva de Carvalho. Por este motivo a Rua da República foi inicialmente conhecida por «Lamas», ou «Casal das Lamas», e só mais tarde foi designada por «Rua do Príncipe Real» ou «Rua do Príncipe».
O Casal das Lamas situava-se a Norte da atual Rua Direita do Monte, instalado em terrenos que faziam parte da Casa de Tavarede, e já existia no século XVI porque Santos Rocha encontrou uma carta de sentença passada em 1592, no juízo ordinário de Tavarede, na qual figuram como réus os moradores das Lamas.
A partir da Praia da Reboleira (Praça Nova) acedia-se ao Casal das Lamas através do “caminho velho para o Casal das Lamas”, acesso que coincide com a atual Rua Direita do Monte. Bem perto da Rua da República existiu o Teatro Príncipe D. Carlos, inaugurado no dia 8 de agosto de 1874, construído em terrenos conquistados ao rio, no lado Norte do “Largo de 24 de Agosto de 1820”, “na parte central da vila, no último quarteirão do Norte do novo bairro do Cais”, a poente do atual café Nau.
Em 1880 já existia a parte ocidental da atual Rua da República, porque em 24 de março desse ano a Câmara arrematou a António Nunes, das Alhadas, as lajes a aplicar nos passeios da Rua do Príncipe Real, por 6 contos e 50 reis por cada metro.
O prolongamento da Rua do Príncipe Real para nascente teve por base uma planta aprovada em sessão de Câmara de 6 de outubro de 1880, a qual projetava um novo bairro a construir no aterro a leste do cais até ao sítio denominado «estaleiro de baixo».
Após a inauguração do ramal de linha férrea Pampilhosa – Figueira, em 3 de agosto de 1882, intensificou-se o crescimento da cidade para nascente, urbanizando-se as zonas adjacentes ao Rio Mondego, a partir da Praça 8 de Maio, ligando o bairro do Teatro (Príncipe D. Carlos) à nova estação ferroviária.
Foi então que a Figueira teve o seu primeiro espaço macadamizado, a Rua do Príncipe (D. Carlos), abrindo uma via de acesso que facilitava a entrada exterior para o interior da vila e para o casario do futuro Bairro da Estação construído depois de 1882.
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Para o prolongamento da Rua do Príncipe, para nascente, a Câmara teve de trocar terrenos com João Maria Gouveia, em julho de 1883, tendo em vista também a abertura da Rua Fernandes Tomás e da Rua da Lapa (atual Rua Vasco da Gama).
A Rua do Príncipe já tinha iluminação pública em 1885, ano que a 8 de abril a Câmara autorizou a colocação de um candeeiro a petróleo nesta rua. E em 1887 já tinha coletor de esgoto porque se sabe que Patrício Reis Gomes foi autorizado a fazer um cano de sua casa para o “cano da Rua do Príncipe Real”.
O abastecimento de água só chegou à Figueira em agosto de 1889, mas a partir de 1883 a Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta vendeu água à Câmara a partir de um marco de água colocado ao fundo da Rua do Príncipe Real, para uso doméstico, e um outro marco junto da estação dos comboios, pela parte nascente, para uso doméstico e das carroças.
Em 8 de janeiro de 1896 a Câmara oficiou o Diretor das Obras Públicas do Distrito pedindo-lhe providências “a fim de serem construídos, quanto antes”, os passeios laterais da Rua do Príncipe.
Em sessão de Câmara de 6 de julho de 1910 o Vice-presidente Rodrigo Galvão d’Oliveira leu uma representação que fora dirigida a Sua Majestade, e que fora entregue por vários moradores e negociantes da Rua do Príncipe Real e Cais da Alfândega, pedindo a substituição do macadame existente no pavimento destes locais por calçada à portuguesa, a exemplo do que a Câmara fizera na Rua Fernandes Tomás. A Câmara deliberou então pedir apoio ao Governador Civil que era o figueirense Dr. José Jardim.