O Forte De Santa Catarina terá sido construído sobre os alicerces de uma fortificação existente desde o reinado de D. João I (1385-1433). Em Outubro de 1585 alguns homens-bons da Câmara Municipal de Coimbra requereram a Filipe I de Portugal (1580-1598) a construção do Forte, tendo em vista a defesa da Figueira da Foz da entrada inimiga através da foz do Rio Mondego.
O Forte de Santa Catarina (séc. XVI), o Fortim de Palheiros (séc. XVI e XIX) e a Fortaleza de Buarcos (séc. XV/XVI) defendiam as povoações de Buarcos e Figueira da Foz das investidas inimigas a partir do oceano. No interior do Forte foi edificada em 1598 a Capela de Santa Catarina (padroeira dos artilheiros). Esta capela possui uma imagem da padroeira datada do século XVIII. Em 1645 a capela serviu como Tribunal da Inquisição.
Em 20 de novembro de 1807 as tropas francesas invadem Portugal pela 1ª vez. Comandadas por Junot, assassinam, violam e saqueiam o povo português. A 29 de novembro, a família real foge para o Brasil com 34 navios de guerra e 15.000 séquitos, ouro, livros e muitas outras riquezas.
A 30 de novembro de 1807, Junot entra em Lisboa e a 21 de Janeiro de 1808 a Corte chega ao Brasil.
Com o que resta do Exército português Junot organiza a Legião Portuguesa – 5 regimentos de infantaria, 2 de cavalaria e 1 batalhão de infantaria ligeira. Afasta assim as melhores tropas e oficiais ao enviar a Legião para França sob o comando do Marquês de Alorna.
A rebelião portuguesa inicia-se no norte, mas rapidamente alastra a todo o país. Chuços, varapaus, foices, armas ferrugentas, pedras, tudo serve para o povo se armar. No Algarve as tropas francesas são obrigadas a retirarem-se para o Alentejo. Elvas e Almeida (sob cerco), Abrantes, Santarém e o litoral entre Peniche e Setúbal é o território que Junot domina e onde faz concentrar as suas forças. O Alentejo declara-se em revolta. Em Coimbra, no laboratório de química da universidade, fabrica-se pólvora e cartuchos.
A Figueira da Foz é também invadida pelos franceses que se instalam no Forte de Santa Catarina.
A 25 de junho de 1808, o sargento de artilharia Bernardo António Zagalo saiu de Coimbra em direção à Figueira, à frente de uma força de 40 voluntários, 30 dos quais estudantes. Pelo caminho arrastam mais de 3.000 populares, com o mesmo objetivo e armados com lanças, piques e foices, fazendo aclamações e repicando sinos.
O plano de Zagalo consistia em obrigar a guarnição francesa a render-se pela fome, contrariando os desejos do povo que queria assaltar o Forte. Mas os revoltosos correm impetuosamente para o Forte, pondo em risco as suas vidas, como referiu Zagalo:
“Vendo porem, que o povo sem refletir no perigo se adeantava demais, corri à sua Frente e o fiz retirar: nessa ocasião dispararão os franceses alguma mosquetearia e huma peça de artilharia sobre nós; mas tendo observado os seus movimentos deitámo-nos e moa ferirão uma única pessoa. Como o cerco estava formalmente lançado e a comunicação com o Cabedelo inteiramente cortada intime aos franceses que se rendessem pois sabia que não tinhao mantimentos ara aquele dia, aliás seria passados à espada. O comandante respondeu que era um tenente engenheiro portuguez e que não podia render-se por causa do perigo em que ficava a sua família que tinha em Peniche em poder dos franceses; em razão disto continuou o cerco e quando se estavao para render à descrição de hora a hora recebi no dia 27 de Junho de 1808 ordem do governador de Coimbra para me retirar imediatamente para aquela cidade”.
O povo toma de assalto o Forte de Santa Catarina, às 7 horas da madrugada do dia 27 de junho, que estava ocupado pelos franceses há aproximadamente 7 meses. Os franceses ainda dispararam algumas mosquetearias e uma peça de artilharia, sem que tivessem atingido alguém, mas acabaram por capitular, entregando-se às forças de Zagalo, no dia 27, com armas e cinco peças de artilharia.
O Forte foi entregue ao comando do major Soares de Buracos que aí colocou a bandeira portuguesa a flutuar. Poucos dias depois, o Forte foi ocupado por uma guarnição inglesa composta por 80 soldados da esquadra do vice-almirante Charles Cotton, comandante da esquadra inglesa que aguardava no mar esta oportunidade.
Um mês depois da tomada do Forte, de 2 a 5 de agosto de 1808, nas praias de Lavos (Cabedelo), desembarcaram 13.000 tropas inglesas, em auxílio de Portugal, que, sob o comando de sir Arthur Wellesley, futuro duque de Wellington, ocupam uma casa ainda hoje existente nos Armazéns de Lavos.
De 5 a 8 de agosto de 1808, desembarcou em Buarcos a divisão comandada por Brent Spencer, que veio de Gibraltar, com cerca de 5.000 homens, também em auxílio de Portugal.
Quanto aos portugueses, Bernardim Freire tinha 6.000 homens em Coimbra, havia 2.500 na Beira com o general Bacelar, uns 6.000 no Alentejo e Algarve e o resto no Porto e a cercar Almeida.
Após o desembarque concluído, Wellington segue para sul, sempre ao longo da costa e com o apoio da esquadra. Wellington tem cerca de 13.500 homens neste momento, marchando penosamente em pleno mês de agosto.
A 12 de agosto de 1808 Wellington chega a Leiria, onde recebe os reforços enviados por Bernardim Freire, pouco mais de 2000 homens. O exército de Wellington dirige-se para Lisboa e derrota os franceses na Roliça e no Vimeiro e, finalmente, a capitulação foi assinada em Sintra.
A 15 de setembro de 1808 os franceses começam a retirar-se e a 2 de Dezembro as últimas tropas abandonam o nosso país.
Os franceses foram derrotados, mas voltam a invadir Portugal por mais duas vezes: em março de 1809 com o general Soult (2ª invasão) e em agosto de 1810 com o general Massena (3ª invasão).
O Forte de Santa Catarina é um ex-libris da Figueira da Foz e está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 5 de dezembro de 1961 (Decreto 44.075).