Hoje, 16 de outubro, é Dia Mundial da Alimentação. E como aqui no Meet também temos a paixão das gastronomias, assinalamos a data com uma lista de alguns dos tesouros alimentares do concelho. Os amantes da boa comida, de facto, têm porto seguro na Figueira da Foz, seja no que toca à variedade como à qualidade…
Território litoral e marcado pelo fértil vale estuarino do Mondego, mas com “cheirinho” de ruralidade – não esquecer a magnífica carne Marinhoa, com certificação DOP e de cuja área de denominação o nosso concelho faz parte -, a Figueira apresenta uma variedade deliciosa e abundante de produtos e pratos tradicionais, uma gastronomia ancestral mas também criativa, que se reflete em criações de autor modernas e de excelência, como o bolo Santaninha da Conchinha Doce, ou o Bolo Rei Escangalhado, da Pastelaria Dionísio, que foi considerado em 2021 o melhor Bolo Rei de Portugal.
Ou porque não os multipremiados gelados artesanais da Emanha? Ou a inigualável Sopa da Pedra do Peleiro, onde também encontramos a bela Feijoada de Sames e outros pratos tradicionais? Ou as caldeiradas, as sopas de peixe, o arroz de sardinha, os mariscos, as enguias em Lavos e as outras culinárias do mar comuns a outras zonas costeiras mas que fazem parte obrigatória do roteiro gastronómico figueirense? Ou o famoso Chouriço de Quiaios e tantas outras iguarias de fazer chorar por mais?…
De facto, além da inovação e criatividade das cozinhas locais, todas as 14 freguesias do concelho possuem os seus pratos e produtos alimentares distintivos, que aconselhamos vivamente a explorar nos websites das Juntas, que por norma disponibilizam essa informação. Ou melhor ainda, marque na agenda as Festas de São João, que decorrem na última quinzena de junho na cidade e venha degustar esses pratos locais na habitual praça da restauração, onde todas as freguesias estão gastronomicamente representadas. E se quiser aprofundar este rico assunto, há que investir na obra «A Nossa Mesa: Receituário Gastronómico da Figueira da Foz», excelente edição municipal com autoria da investigadora Guida Cândido, reeditada e melhorada em 2019.
Mas para efeitos deste artigo, selecionamos apenas os produtos e pratos incluídos na lista oficial de Produtos Tradicionais Portugueses, que a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural resolveu fazer em colaboração com a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas (FPCG) e a MINHA TERRA – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local. Não são os melhores, não é esse o critério, e esta lista nem sequer é pacífica na comunidade gastrónoma, são apenas os que encontraram caminho para este levantamento e são 13 alimentos e pratos que são inegavelmente deliciosos e distintivos deste território, embora nem sempre tenham o destaque merecido nos menus locais. Nas freguesias e nos restaurantes mais típicos ou atentos às culinárias locais, como o Carrossel, porém, terá mais probabilidade de os encontrar. Nos mercados municipais e no comércio local, encontrará certamente todos os ingredientes.
Sal da Figueira da Foz/Flor de Sal da Figueira da Foz
Começamos com um dos ex-libris da cultura alimentar local, que nos últimos anos tem ganho um novo impulso com novos produtores artesanais e projetos inovadores nas famosas salinas da Figueira da Foz. E ganhará certamente maior impulso e proteção com a classificação, em julho de 2023, de Património Cultural Imaterial, com candidatura em boa hora promovida pelo Município.
O “Sal da Figueira da Foz” e a “Flor de Sal da Figueira da Foz” são sais marinhos obtidos por colheita manual, sem aditivos e exclusivamente provenientes da água do mar do Oceano Atlântico. São produzidos de forma artesanal em pequenas unidades produtivas das salinas da Figueira da Foz. O processo de produção baseia-se na evaporação da água e cristalização de sais com a ajuda de fatores climáticos, como sol e vento, e a colheita é realizada manualmente. Os sais podem ser aromatizados e acondicionados em recipientes para venda ao consumidor final durante todo o ano, seja no local, seja em sítios como o Mercado Municipal.
Brisas da Figueira
Talvez a especialidade gastronómica mais requintada do concelho. Esta delícia regional, cuja origem está envolta em mistério, é feita com açúcar, ovos inteiros, amêndoas e vinho do Porto, e cozida em formas forradas com massa delicada. O resultado é um doce de sabor irresistível e textura suave que faz juz às doceiras que já os faziam por meados do século XX, a D. Rosária e as as suas filhas Rosárias, com estabelecimento junto à Casa do Paço e cuja habilidade culinária era lendária. Embora a sua origem seja incerta, a casa Dionísio resgatou esta iguaria em 2015 – tal como fez com as Brisas da Figueira – e hoje está disponível nas melhores pastelarias da cidade.
Raia de Pitéu ou Pitau
A Raia de Pitéu ou Pitau é um prato típico do concelho da Figueira da Foz, feito com raia grossa e fígado, batatas, sal, alho, louro, azeite, colorau, vinagre e pão ou broa. O uso do fígado no molho é o que o distingue. Disponível quando a raia está em temporada, é comercializado em restaurantes e casas particulares e é um prato representativo da alimentação local desde os anos 70. Todos os ano em abril, os restaurantes aderentes participam no Festival da Raia, organização da Associação Figueira com Sabor a Mar, onde esta receita é central.
Feijoada de Sames
A Feijoada de Sames – ou samos, com lhe chamavam os bacalhoeiros – é um prato tradicional da zona costeira, que utiliza vísceras do bacalhau, conhecidas como sames, que são as bexigas natatórias do peixe agarradas à espinha, juntamente com toucinho, chouriço, feijão branco, couve coração e azeite. O prato remonta à época em que a Figueira da Foz era um importante centro de pesca do bacalhau na Terra Nova, sendo uma forma de aproveitar partes do peixe negligenciadas pela indústria bacalhoeira.
O prato é disponibilizado ao longo do ano, principalmente em restaurantes e casas particulares que vendem as bexigas em salmoura para a sua confecção. Este pitéu tem sido promovido e valorizado particularmente pela Figueira com Sabor a Mar, que em novembro realiza o Festival do Bacalhau e Seus Derivados (sames, línguas e caras). Modo de preparação: Coze-se os sames e retira-se a pele escura. Separadamente, faz-se um refogado com toucinho e chouriço, a que se juntam os sames, cortados em pedaços pequenos. Acrescenta-se feijão branco e também couve coração, previamente cozidos. Junta-se um golpe de azeite e deixa-se apurar.
Arroz de Sardinha
O Arroz de Sardinha é mais um prato típico da zona costeira da Figueira da Foz e de cariz popular, feito com sardinhas frescas, cebolas, tomates, pimentos, louro, arroz e temperado com azeite, vinho branco seco, piripiri, salsa, alho, sal e limão ou vinagre vínico. As sardinhas são primeiro cozidas num caldo feito com os outros ingredientes e depois adicionadas novamente quando o arroz está quase pronto. É um prato bastante popular na região, sendo encontrado principalmente em restaurantes da área de Buarcos. Recentemente, recorde-se, foi protagonista de um pequeno festival que uniu três restaurantes locais, onde houve espaço para a inovação.
Papas de Moado
As Papas de Moado são uma receita única e emblemática da gastronomia tradicional figueirense, cujas origens também se perderam no tempo. Esta sobremesa é executada com farinha, açúcar, especiarias, limão e… sangue de porco. Cozido tradicionalmente em fogueira de lenha, é mexido com colher de pau regularmente por mais de três horas. Trata-se de uma sobremesa muito apreciada nas festividades populares, sendo vendida por coletividades com pequenas variações entre as freguesias do concelho, sendo que algumas versões incluem frutos secos. Mas a sua área de denominação é a freguesia de Vila Verde. O sabor intenso dos cominhos e a textura agradável encantam os apreciadores que, no passado, comiam com as mãos, sem deixar vestígios!
Canja a Doentes ou Sopa do Duque (Sopas)
A Canja a Doentes, ou Sopa do Duque, é uma saborosa iguaria da zona de Lavos. É confeccionada com galinha do campo, orelheira de porco salgada e pé de porco, chouriço, toucinho, couve, macarronete e alho francês, com salpicos de hortelã. Ao servir, a sopa é acompanhada por carne cortada em pedaços. É acompanhada, por norma, por vinho tinto e laranja branca como sobremesa. Acredita-se que tenha sido servida ao General Artur Wellesley, em 1808, aquando do seu desembarque nesta costa para combater os invasores napoleónicos. Atualmente, é possível encontrar a Sopa do Duque em alguns restaurantes locais por encomenda ou em casas privadas se tiver a sorte de ser convidado por um habitante local.
Caldeirada de Enguias à Moda de Armazéns de Lavos
A Caldeirada de Enguias à Moda de Armazéns de Lavos é uma iguaria tradicional da margem sul do Mondego, preparada com enguias, cebola, salsa, louro, piripiri, azeite, sal de unto (banha do porco com sal) e pão. As enguias são colocadas em camadas com cebola, temperadas com salsa, louro e piripiri, e cozidas em lume brando. O caldo é retirado e servido com pão, enquanto as enguias são consumidas com o ensopado. Comercializa-se em restaurantes e casas particulares. A receita tem origem na pesca das enguias nos rios e valas do concelho e na venda pelos armazéns de Lavos no passado, sendo as enguias preparadas em casa de quatro maneiras diferentes: em caldeiradas, em ensopados, fritas e grelhadas.
Búzios com Grão à Pescador
E que tal provar uma deliciosa pratada de búzios com grão à pescador, típica da faixa litoral? O prato Búzios com Grão à Pescador é uma iguaria típica da Figueira da Foz, feita com búzios grandes, grão-de-bico, cenoura e pequenos pedaços de chouriço de Quiaios ou de Lavos, além da omnipresente cebola e dos temperos: limão, sal e piripíri. Os búzios, depois de escrupulosamente limpos, são cozidos, limpos e cortados em pequenos pedaços, enquanto o grão é cozido separadamente. Em seguida, é preparado um refogado com cebola, cenoura, toucinho, chouriço e búzios, que é acrescentado ao grão cozido à parte. Pode ser feito também com buchos de peixe.
A receita tem origem na culinária dos pescadores da região, que utilizavam os enchidos de Quiaios e Lavos para preparar uma feijoada de búzios, que posteriormente foi adaptada para esta variação.
Bolo das Alhadas
O Bolo das Alhadas é um pão doce redondo, com uma receita secreta passada de geração em geração na freguesia rural de Alhadas. A fama desta iguaria é mantida pela sobrinha da falecida padeira Leonor das Alhadas, ou “Leonor dos Bolos”, que continua a produzi-lo artesanalmente com farinha, açúcar, ovos, limão, manteiga, canela, fermento, água e sal. O produto está disponível durante todo o ano em padarias e mercados, mas a produção é limitada devido à sua natureza artesanal.
Arroz de Carneiro
O Arroz de Carneiro é um prato típico da antiga freguesia de Borda do Campo, hoje integrada no Paião, margem sul rural da Figueira da Foz. É composto por pequenos pedaços de cordeiro cozidos e acompanhados com o inevitável arroz, que nesta terra é rei. O modo de preparação é relativamente simples: o carneiro é escaldado em água fervente com sal, hortelã e cebola, e depois cozido separadamente. Em seguida, o arroz é cozido na água da cozedura do carneiro e servido com um pouco de vinagre a gosto. É um prato presente em festas, sobretudo casamentos e batizados, sendo de receita muito antiga. Embora esteja disponível principalmente em épocas festivas, é um prato que representa com grande brio a tradição gastronómica da região.
Chora
A “Chora” é uma sopa alaranjada feita com cabeças de bacalhau fresco (ou badejo), arroz, cebola, louro, alho, tomate maduro, azeite e sal, típica da zona costeira de Figueira da Foz. Confeciona-se tudo em cru e deixa-se ferver o peixe até estar bem cozido, junta-se o arroz necessário, deixa-se cozer e no final deitam-se umas gotas de vinagre. É um prato tradicional dos pescadores da região que, durante as suas longas viagens em alto mar, preparavam este prato com o peixe que tinham disponível. Hoje em dia, é possível encontrar a “Chora” em alguns restaurantes da região ao longo de todo o ano. Apesar de não ser um prato muito comum, a “Chora” é um testemunho vivo da cultura alimentar local e da importância do bacalhau na economia e cultura da região.
Arroz Carolino do Baixo Mondego IGP
O “rei” da gastronomia do Baixo Mondego e a base de muitas das principais receitas tradicionais e modernas da região, o Arroz Carolino do Baixo Mondego é uma variedade muito específica, que recebeu a certificação de Indicação Geográfica Protegida (IGP). As baixas temperaturas e insolações específicas durante o período de maturação da cultura são responsáveis por um amadurecimento lento e uma composição química diferente do arroz. Isso resulta num arroz com teores superiores de amilose e maior percentagem de grãos inteiros, tornando-o uma escolha popular para pratos tradicionais portugueses.
A área de produção abrange várias freguesias de Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Pombal e Soure. A Associação dos Agricultores do Baixo Mondego é responsável pela gestão da produção e comercialização deste arroz. Em 2023 decorre um projeto de valorização deste património alimentar, por parte da Câmara Municipal da Figueira da Foz, que inclui a reconversão do Palácio Conselheiro Branco, em Maiorca, em Centro de Divulgação e Promoção do Arroz, ou em alternativa a Quinta de Foja, uma das propriedades agrícolas arrozeiras mais antigas e férteis da região, que remonta à Idade Média.